A Reencarnação como lei natural
Por Gisele Scafuro
Professora e advogada
Tive oportunidade recentemente de fazer uma breve reflexão neste blog sobre o amor. Naquele texto, mencionei que tenho bastante interesse pelo estudo das leis universais e, assim, destaquei que estas leis segundo o Evangelho de Jesus são: a lei do amor, a lei da caridade, a lei do perdão, a lei da justiça (lei da reencarnação e lei de causa e efeito).
Neste texto, gostaria de refletir sobre a reencarnação que (bem como a lei de causa e efeito) integra uma lei maior, a da Justiça, pelo menos se observado sob o prisma dos ensinamentos de Jesus. Parece-me fazer sentido que assim o seja, visto que a fonte criadora sendo puro amor, é também justa. Sendo justa, a fonte criadora dará as mesmas condições, os mesmos direitos e as mesmas ferramentas para que toda a sua criação possa evoluir.
Considerando que o espírito já está em latência desde o primeiro momento da criação, a encarnação e a reencarnação são os mecanismos disponíveis para que se desenvolva, aprimorando seus instintos, inteligência e virtudes por meio de inúmeras oportunidades.
“O Livro dos espíritos” de Allan Kardec (1) trata amplamente deste assunto, mas aqui destaco apenas o seguinte trecho de uma das respostas sobre o dogma da reencarnação:
(…) o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se?
Nesse sentido, o objetivo da reencarnação, já que a fonte criadora é justa e amorosa (ou amorosa e, portanto, justa) é oferecer quantas oportunidades forem necessárias para que todos evoluam. Muitos utilizam o termo “expiação”, ou seja, a reencarnação é uma forma de expiar nossos erros do passado para corrigi-los. Mas prefiro ver a reencarnação apenas como uma lei natural que oportuniza o “melhoramento progressivo”, visto que tudo foi criado para evoluir no seu tempo e cada um da sua forma.
Como tudo isto funcionaria? Ao que parece, no ato da criação não temos consciência de nós mesmos. Depois, num determinado momento da evolução, passamos a agir por instinto. Depois, a consciência e a inteligência vão sendo adquiridas paulatinamente, ao longo de inúmeras encarnações, de forma justa, conforme a lei de causa e efeito, e conforme a individualidade de cada ser.
Portanto, não fomos criados perfeitos ou acabados e a beleza da criação está nisto. Temos oportunidade de cocriar com a fonte inclusive quanto a nós mesmos, pois vamos nos construindo. Fato é que fomos criados sim com a essência perfeita da fonte criadora e a caminhada de retorno à criação é certa, mas individual e intransferível e só acontece por meio do progresso.
Não há saltos evolutivos. Já fomos minerais, vegetais, animais, agora hominais e, num determinado momento, ainda distante, seremos espíritos puros. E só então, o mecanismo de tornar-se “carne” (encarnar e reencarnar) será desnecessário.
E como nos tornaremos espíritos purificados? Como a fonte criadora é perfeita, amorosa e justa, a sua criação também o será em algum momento. Assim, é no desenvolvimento das virtudes que chegaremos à perfeição; e na perfeição chegaremos à felicidade plena que é o fim e é o que nos move, encarnação após encarnação.
Mas o que é virtude? Virtude é uma qualidade positiva, é uma manifestação moral do bem. Há inúmeros estudos filosóficos sobre o tema (que não caberá aqui aprofundar). Mas, em síntese, agora me baseando numa aula recente de Juliano Pozati sobre Jesus (2), a virtude é o bem que naturalmente está na nossa essência desde a criação. Como somos seres livres para escolher, porque cada um segue o seu caminho rumo à evolução, as virtudes que estão em nós, (mesmo que não saibamos), em algum momento, farão com que façamos escolhas e tenhamos atitudes que visarão apenas ao Bem.
Assim, entender a reencarnação como instrumento ou lei ou fruto de uma lei maior, a lei da justiça, nos fortalece, aumenta nossa coragem em prosseguir e faz com tenhamos sempre a certeza de que tudo é perfeito. E assim o sendo, vamos tentando fazer o nosso melhor hoje. Porém, se ainda assim errarmos ou estagnarmos nesta jornada, saberemos que teremos outras oportunidades pela reencarnação.
É dessa forma que posso me tornar mais amoroso comigo mesmo e que posso me tornar mais generoso com o próximo, pois sei, que igualmente a mim, está seguindo o caminho da (sua) evolução.
E neste caminhar mais harmonioso e confiante, encontraremos belos lampejos de felicidade, aquela que nos aguarda no final.
Notas
(1) A reencarnação é compreendida e estudada em algumas culturas. Na doutrina espírita de Allan Kardec, este tema pode ser encontrado em “O Livro dos Espíritos”, Capítulo IV, perguntas 166 a 221. No texto acima, o tema foi abordado com o objetivo de observar a reencarnação sob o foco das leis naturais e, neste sentido, a reencarnação se torna inquestionável, como inquestionáveis são o amor e a felicidade que são meio e fim de nossa busca enquanto seres humanos.
(2)Juliano Pozati trata das virtudes em seu curso sobre Jesus (Yeshua), aula 17, na plataforma do Círculo Escola (https://circulo.site/) e, também, nos canais do Youtube. (https://www.youtube.com/watch?v=bmIng-IWegc)
Revisão: Aline Tatsch Dias
Edição: Karen Suckow
Rogério M. Ovsiany