Guardiões da Humanidade - Colegiado Curitiba

Voluntariado e Cidadania: aprendizado e percepção de valor a partir do serviço prestado à sociedade

Por Aline Tatsch Dias – Terapeuta

A partir do momento que compreendemos que a realidade econômica é desigual em termos de oportunidades e acesso a direitos básicos e conscientes dos nossos privilégios, buscamos equilíbrio a partir das nossas ações em favor de causas diversas.

É por isso que muitos grupos se reúnem com diferentes propósitos: para atuar na melhoria das condições de vida das populações carentes, para defender os direitos dos animais ou para proteger o meio ambiente, entre muitos outros. Estas pessoas que contribuem com seu tempo em prol destas ações são chamadas voluntários.

É interessante observar que, quando pensamos em voluntariado, a primeira ideia que vem à nossa mente é a doação, o serviço desinteressado, o trabalho não remunerado em favor da sociedade, especialmente em favor das pessoas em situação de vulnerabilidade. No entanto, na realidade, o voluntário recebe muito mais do que oferece.

Além disso, parece que o primeiro sentimento do voluntário é o da alegria em doar-se. E sim, é uma imensa alegria! Mas este tipo de serviço (esta palavra, parece-me, bem mais adequada que “trabalho”, pois está relacionada ao ato de servir) nos proporciona outros benefícios, nos proporciona aprendizado e desenvolvimento pessoal inigualáveis.

No aspecto fisiológico, por exemplo, vale observar que a ocitocina (também chamada de hormônio do amor) é um hormônio ligado à sensação de felicidade, não atua sozinha, está ligada a uma cadeia fisiológica positiva e é muito eficaz no tratamento da ansiedade, stress e outras doenças psiquiátricas. As interações sociais são moduladas por este hormônio e sua produção está diretamente relacionada às interações afetivas, ao convívio social e a valores morais como o altruísmo e a honestidade. Ou seja, quando interagimos com as pessoas no trabalho social voluntário, tanto estamos provocando essa descarga positiva em nosso próprio corpo, quanto estamos estimulando essa liberação hormonal e sua consequente ação positiva nas pessoas assistidas, possivelmente favorecendo as bases fisiológicas para o desenvolvimento da moralidade no outro.i

No aspecto profissional, os desafios propostos pelas atividades de natureza assistencial nos colocam na posição real de aprendizado e desenvolvimento cognitivo: nossa capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento prático se ampliam. O serviço voluntário exige ação, desenvolve a tomada de decisão e nos coloca inúmeras vezes diante de realidades diferentes das que estamos habituados, desafiando constantemente a nossa capacidade de propor soluções criativas.

No aspecto metafísico, por sua vez, o serviço à sociedade nos aproxima da noção de totalidadeii. Afastar-se das nossas necessidades pessoais para adentrar, conhecer e compreender o universo do outro nos aproxima da percepção de que nossa unicidade não está dissociada do todo, ao contrário, se dissolve nele. Esta é a verdadeira sensação de transcendência de si mesmo que move o homem no âmbito filosófico e espiritual.

Servir de forma voluntária é uma experiência que escola alguma nos proporciona. É uma experiência que extrai o melhor de nós, porque estamos abertos e entregues a ela, mesmo que, em um primeiro momento, não tenhamos noção da sua amplitude.

Perceber-se como parte de uma grande família chamada humanidade, posicionar-se como cidadão do mundo e agir na transformação da realidade que nos cerca são ideais latentes dentro de todos nós. É preciso vencer a ilusão de que a mudança que desejamos virá de fora. Assim, devemos nos colocar à disposição do nosso crescimento pessoal.

Muitos de nós já estão vivenciando esta experiência transformadora!

E você? Está disposto a dar “um passo à frente”?

__________________________________________________________________

i https://online.pucrs.br/blog/public/ocitocina-hormonios-que-influenciam-seu-comportamento acessado em 17/09/2022 às 14h44.

ii “Chama-se Totalidade essa maneira de conhecer, na qual a Razão apreende o objeto na compreensão, no solipsismo, impondo a significância do Eu, ou seja, a capacidade do Eu de conferir sentido ao mundo e a si mesmohttps://ppgf.ufba.br/sites/ppgf.ufba.br/files/dissertacao_marcello_chaves_20jun15.pdf, em 17/09/2022 às 15h10.

Fotos: trabalho voluntário dos agentes do Colegiado presencial de Curitiba no Instituto Beija-Flor (cidade de Colombo – PR)

Revisão: Gisele Scafuro
Edição: Karen Suckow e
Rogério M. Ovsiany